A tempestade que te substituiu.
Tu abandonaste-me. Arrumaste as tuas coisas na tua mala e ainda bateste com a porta, para que eu pudesse ter perfeita noção do que estavas a fazer. Tornaste bem claro que nada te faria mudar de ideias. Tornaste bem claro o quão farta estavas e como a outra era melhor que eu. E eu fiquei impávida e serena, adotei essa postura e assim permaneci. Achei que era melhor assim. Depois de tantas palavras mal-encaradas que trocamos enquanto tudo ardia à nossa volta, achei que nada havia a fazer. Deixei-me dominar pela mágoa que fizeste nascer dentro de mim. Mágoa intensa e profunda, há que admitir. Foram precisas longas horas para acordar para a tempestade que estava a bater à minha porta. Um tornado que te viria substituir. Rapidamente o desencadeei, e já não pude fugir.
Depois de meses a fio neste turbilhão, que todos os dias fere um pouco mais fundo na minha alma, permaneço sentada na mesma cadeira, a mesma cadeira onde outrora estava “impávida e serena”, mas agora cada lágrima que desce o meu rosto multiplica-se por três.
Vivemos na era moderna, onde todos sabem tudo sobre nós, sem nada realmente saber. E assim nasceu o meu vício, de te ter por perto sem sequer te ter. Desta forma é criado um fantasma, que me persegue de noite e de dia. Vagueia por esta casa, ao mesmo tempo que permaneço sentada, no meio desta ventania. Os meus longos cabelos esvoaçam e quase se soltam de mim, mas isso não me incomoda, incomoda-me a felicidade que hoje só pertence a ti.