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Amorosamente

Meros pensamentos dramatizados em verso e em prosa

Amorosamente

Meros pensamentos dramatizados em verso e em prosa

Ter | 31.07.18

Quando ficamos a sós...

H. Alegria

Uma relação íntima com outra pessoa é algo muito complexo. Sexo. Amor. Cada cabeça a sua sentença.

Não dá para definir até que ponto é que alguém se consegue despir para outro alguém. E despir pode ser muita coisa... Desde dar total visibilidade à nossa pele, a dar total visibilidade à nossa alma.

Depende muito da perspetiva que temos e que criamos. Depende de onde estamos nesta vida e também de onde viemos. Depende de como vemos o nosso corpo, de como nos olhamos ao espelho e de como confiamos em quem passa ao nosso lado.

Há quem consiga ter uma visão clara e com todos os pontos bem separados do que está a fazer. Há quem consiga se despir sem se mostrar por completo. Fazem o que têm a fazer porque se inventaram o prazer não foi só por acaso.

Mas também há quem se olhe ao espelho e se queira tapar de si mesmo. Há quem olhe para o lado e não dirija se quer o olhar pois não têm nada a ver com isso. Há quem não saiba sentir prazer sem se despejar de todas as camadas de proteção que carrega no dia a dia. E quando querem senti-lo, entregam-se, de corpo e alma, despem-se de tudo. Talvez carreguem o seu coração demasiado perto e de forma demasiado constante. Só sabem fazer amor... E claro, não vão fazê-lo com qualquer pessoa.

Somos o nosso próprio tesouro. Ou temos controle suficiente para saber que camadas destapamos, ou, se não, temos esses mecanismos, apenas controlamos a quem mostramos o nosso ser mais completo.

Talvez isto seja um assunto só de mulheres. Mas há mulheres que se despem... E há mulheres que se entregam. Nenhuma delas é melhor que a outra. Ambas têm um dom em conseguir fazê-lo como fazem. Todas têm uma história para contar, um caminho a percorrer, e, a mal ou a bem, com mais ou menos pedregulhos pela frente, um coração para amar.

Dom | 29.07.18

Uma pessoa que se isola fica prisioneira de si mesma.

H. Alegria

Por muito ou pouco que socializemos somos seres que precisam de comunicar e interagir com outros. Ao não o fazermos corremos o risco de enlouquecer.

Claro que, hoje em dia contamos com uma ferramenta quase caída do céu, a internet. Mas, ainda assim, ela não soluciona os nossos problemas.

Saber que a 3654 quilómetros de distância está alguém que nos irá ouvir sempre que necessário, a torcer pelo nosso sucesso, pela nossa vitória, pronto para mostrar que ainda há quem se importe com o nosso bem estar, e tudo isto de forma genuína, é, sem dúvida, magnífico. Mas nem sempre podemos ver essa pessoa, ver mesmo, com os nossos olhos, de perto, em 3D, em carne e osso; nem sempre podemos abraça-la e aparar-lhe as lágrimas; nem sempre podemos estar perto, e aproveitar o dia lindo que está lá fora, aproveitar um sorriso, ou mesmo uma sequência de tolices sem nexo. E isso dói... E sim, essas relações genuínas que por vezes temos a sorte de encontrar a quilómetros e quilómetros de distância, são um grande consolo, e um grande abrigo; são algo maravilhoso que a tecnologia adicionou às nossas vidas, mas não chegam para um sobreviver.

O contato físico é nos essencial. Faz parte do nosso ADN. Sentir o perfume daquela amiga tão vaidosa, sentir o abraço daquele amigo tão carinhoso, sentir a presença daquela pessoa que está ali pronta, mesmo ao nosso lado, para nos secar as lágrimas assim que levantarmos a cabeça do seu ombro.

Faz falta olhar nos olhos, faz falta dar as mãos, faz falta sentir perto, faz falta o calor de outro coração.

E uma pessoa que se isola fica prisioneira de si mesma.

Porque nós ouvimos histórias constantemente, e criamos as nossas próprias sem darmos conta. Se de repente não há ninguém do nosso lado, só inventamos alucinações de nós próprios.

Porque com companhia ouvimos como vai o romance de fulana, e ouvimos como se deu a mais recente briga daqueles dois rapazes que já ninguém nem se lembra do porquê do seu desentendimento.

Porque com companhia, vão surgir amizades, vão surgir amores e desamores, vão surgir azares, vão surgir surpresas e tantas outras coisas...

No entanto, aquele que se fechou em casa, ou que se fechou na sua rotina de trabalho-casa, de escola-casa, aquele que já não se lembra mais do que é o mundo lá fora, do que é fazer parte da vida de outras pessoas e das suas histórias, só sabe o que é o seu reflexo e as variantes onde a sua imaginação o engole.

Aquele que está sozinho só conhece os quatro cantos da sua casa, só conhece os pequenos detalhes que de vez em quando se alteram no espelho de casa de banho, conhece apenas as suas introspecções que o afundam em angústias, tudo isto enquanto contempla um livro de páginas cheio... Mas ausente de histórias por contar.