H. Alegria
Nós, raparigas, crescemos rodeadas de histórias de príncipes encantados, que um dia virão num cavalo alado para viverem connosco "felizes para sempre". Algumas de nós talvez se agarrem mais a estes contos e os tragam consigo ao longo dos anos. Mas nem todas o fazem.
As minhas histórias de príncipes encantados eram os filmes que passavam na TV. As novelas e todos os pares românticos que ainda hoje me fazem sonhar um pouco, por mais que não admita.
Como romântica incurável que sou, sempre procurei o amor ou algum exemplo do mesmo. Sempre estive rodeada por muito pouca gente, especialmente no que toca a rapazes.
Nos tempos de escola era a miúda das paixonetas. Não sabia o que o meu coração dizia, e qualquer direção que o fizesse palpitar era um conto por nascer... Claro que encontrava algumas constantes pelo caminho, todas elas um tanto fictícias. E devido a toda a ficção, por mais que o meu coração dissesse "ele é o tal", eu continuava à busca de uma história que fosse mais que umas quantas folhas de papel.
Os anos passaram e dei por mim em casa, com o tempo a levar as poucas pessoas que me rodeavam, uma por uma. Isso foi complicando os meus contos de fadas, até ao dia de hoje.
E inexperiente como sou, — não falo simplesmente de romance, mas sim de pessoas no geral — dei por mim com as histórias de amor a tornarem-se em filmes de terror.
Hoje, sou um quadro antigo pendurado numa casa abandonada. Refém do pó que se acumula e da humidade que o ataca. Ninguém entra por estas portas a não ser para sair de imediato. Ninguém estende a mão para prestar os devidos cuidados. Esquecido e abandonado, com um mundo lá fora, tão recheado de arte. Arte essa, sem noção de que esta pintura exista, e tenha sido deixada para o esquecimento.
Não alcances a minha mão, pois eu desconheço a textura de uma pele que não seja a minha. Não me abraces pois os meus cacos são um castelo de cartas que ao mínimo toque pode ser derrubado. Não me abraces. Não me perguntes sobre a minha vida. A inércia desta casa abriu as portas a aranhas que tecem ao meu redor, e eu tenho tenho medo de morte das mesmas. Acho, até, que já morri por dentro.
Não me mostres mais romances, nem casais apaixonados. Não sabes o que custa ter o coração congelado pelo mundo, por ninguém o querer aquecer. Não me mostres como eles se tocam, como se aconchegam, como se beijam, como se agarram. Não me mostres como ele a olha nem como ela lhe sorri. Não me mostres nada, porque nada é pior do que ver amor em terras de não amados. Querer tocar mas desconhecer o mundo. Querer amar mas desconhecer o próprio peito. Querer sentir tudo mas não ser capaz de sentir nada.
E se me deparasse com a oportunidade de tudo conhecer e mil aventuras viver, fugia.
Porque é tão fácil fugir e continuar sem existir, do que olhar o terror nos olhos e atravessar pelas teias à minha volta, agarrar-me ao desconhecido e viver. Finalmente viver para sentir este coração aquecer.
O amor tornou-se para mim um puro e autêntico terror...