Quatro anos depois.
Quatro anos passaram e quase não dei por eles. Só dei pela tua falta. Uma ausência já há muito rotineira, mas que, ainda assim, volta e meia não se encaixa nesta casa.
As memórias fogem-me pelos dedos... Até que as mais pequenas coisas, que jamais pensei recuperar, são despejadas em cima de mim, como chuva num jardim prestes a florir.
E recordar é celebrar a vida, já recuperar é renascer das cinzas! São essas, agora, as minhas grandes alegrias! No meio de tantas memórias que o tempo sopra para longe de mim, é díficil encontrar estas que tanto me fazem sorrir. Eu hei de te recordar eternamente, sendo essa a única forma de manter um pouco da tua vida viva... Mas a perda é uma ferida que, mesmo parecendo que se curou, nunca cicatriza.
A cada dia que passa as memórias são mais insuficientes. Penso todos os dias em tudo aquilo em que podias estar presente, mas a vida decidiu que era tempo de estares ausente... E assim foi. Dói muito.
Por isso é que cada memória enterrada que volta à superfície traz a magia fictícia de viver de novo. É um puzzle por completar, que jamais estará inteiro. Diferentes peças voam consoante a nossa estação. Umas fogem para debaixo da mobília, outras encontro novamente, cheia de alegria... E nisto sou assombrada por todas aquelas que ficaram por chegar.
São enciclopédias em branco de histórias cuja narrativa não recordo. São episódios que ficaste por acompanhar e agora o teu nome não vem mais nas falas destes atos. Questiono-me por tudo aquilo que fiquei por saber. As aventuras que não terminei de ouvir, e aquelas que nem sequer me chegaram aos ouvidos. As peças que tinha por te mostrar e agora, no público, só resta um lugar guardado para alguém que já não está cá. Não dessa forma, pelo menos...
Quatro anos passaram e tanto aconteceu. As voltas que a vida deu... Eu sabia que largaríamos as mãos mas queria tanto poder, ainda, andar debaixo da tua asa.
Pergunto-me se te orgulhas de onde estou agora, e espero que estejas presente e olhes por nós... Porque tu estás connosco a toda a hora.
No outro dia perguntei à mãe do quanto que dançavas... E só sei que não fomos a bailaricos suficientes. Quando canto ninguém ouve, mas eu procuro por ti... Pelos fados que cantaste e aqueles que eu te escondi. Tenho o violino à cabeceira, e a armónica numa prateleira perto de mim. Tanta melodia que ficou por ouvir... Agora restam molduras, aqui e acolá, porque em todos os cantos ainda resta um pouco de ti.
A vida é algo muito especial, mas quando partiste levaste parte da sua magia contigo, e só tu já eras muita da magia da minha vida. E por mais que eu saiba a sorte que tive por te ter tido tanto quanto aqui estiveste, do meu lado, há coisas que sem ti perderam o brilho.
A vida continua, e ao fim de quatro anos a única coisa que permanece intacta é esta saudade por ti que carrego no peito... Mas o seu brilho perdeu o encanto de quando estavas por perto.