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Amorosamente

Meros pensamentos dramatizados em verso e em prosa

Amorosamente

Meros pensamentos dramatizados em verso e em prosa

Sab | 12.10.19

Quatro anos depois.

H. Alegria

Quatro anos passaram e quase não dei por eles. Só dei pela tua falta. Uma ausência já há muito rotineira, mas que, ainda assim, volta e meia não se encaixa nesta casa.

As memórias fogem-me pelos dedos... Até que as mais pequenas coisas, que jamais pensei recuperar, são despejadas em cima de mim, como chuva num jardim prestes a florir.

E recordar é celebrar a vida, já recuperar é renascer das cinzas! São essas, agora, as minhas grandes alegrias! No meio de tantas memórias que o tempo sopra para longe de mim, é díficil encontrar estas que tanto me fazem sorrir. Eu hei de te recordar eternamente, sendo essa a única forma de manter um pouco da tua vida viva... Mas a perda é uma ferida que, mesmo parecendo que se curou, nunca cicatriza.

A cada dia que passa as memórias são mais insuficientes. Penso todos os dias em tudo aquilo em que podias estar presente, mas a vida decidiu que era tempo de estares ausente... E assim foi. Dói muito.

Por isso é que cada memória enterrada que volta à superfície traz a magia fictícia de viver de novo. É um puzzle por completar, que jamais estará inteiro. Diferentes peças voam consoante a nossa estação. Umas fogem para debaixo da mobília, outras encontro novamente, cheia de alegria... E nisto sou assombrada por todas aquelas que ficaram por chegar.

São enciclopédias em branco de histórias cuja narrativa não recordo. São episódios que ficaste por acompanhar e agora o teu nome não vem mais nas falas destes atos. Questiono-me por tudo aquilo que fiquei por saber. As aventuras que não terminei de ouvir, e aquelas que nem sequer me chegaram aos ouvidos. As peças que tinha por te mostrar e agora, no público, só resta um lugar guardado para alguém que já não está cá. Não dessa forma, pelo menos...

Quatro anos passaram e tanto aconteceu. As voltas que a vida deu... Eu sabia que largaríamos as mãos mas queria tanto poder, ainda, andar debaixo da tua asa.

Pergunto-me se te orgulhas de onde estou agora, e espero que estejas presente e olhes por nós... Porque tu estás connosco a toda a hora.

No outro dia perguntei à mãe do quanto que dançavas... E só sei que não fomos a bailaricos suficientes. Quando canto ninguém ouve, mas eu procuro por ti... Pelos fados que cantaste e aqueles que eu te escondi. Tenho o violino à cabeceira, e a armónica numa prateleira perto de mim. Tanta melodia que ficou por ouvir... Agora restam molduras, aqui e acolá, porque em todos os cantos ainda resta um pouco de ti.

A vida é algo muito especial, mas quando partiste levaste parte da sua magia contigo, e só tu já eras muita da magia da minha vida. E por mais que eu saiba a sorte que tive por te ter tido tanto quanto aqui estiveste, do meu lado, há coisas que sem ti perderam o brilho.

A vida continua, e ao fim de quatro anos a única coisa que permanece intacta é esta saudade por ti que carrego no peito... Mas o seu brilho perdeu o encanto de quando estavas por perto.

Seg | 07.10.19

Quantas vezes

H. Alegria

Quantas vezes estivemos lado a lado

sem sequer nos tocarmos

de que perto era de costas voltadas

e longe era de mãos dadas

 

Quantas vezes a tua sombra

andou colada na minha

sem que se notasse a distância

que separa as nossas vidas

 

Quantas vezes o céu chorou

e a noite chegou cedo demais

 

Quantas vezes o céu se abriu

para que mais tempestades pudessem chegar

 

Porque meu amor, nós somos caos

uma tempestade em alto mar

que nunca se saberá controlar

 

Ondas indomáveis que não se conseguem suportar

uma vez unidas são capazes de matar

 

Meu amor, eu queria-te do meu lado

eu quero-te ao meu lado

mas esta saudade é um veneno

que só mata se estás perto

 

Talvez tenha de aprender a viver

de costas voltadas para o mundo

porque foi em ti que encontrei vida

esperança e a tão desejada harmonia

que ao me aproximar se auto destruiu

Ter | 01.10.19

Chateia-me o quanto te quero.

H. Alegria

Chateias-me a alma.

Sim, tu! Chateias-me a alma.

Tu e esse teu aroma que percorre cada rua de Lisboa mas não te encontro em nenhuma delas.

És a sombra que mais vejo mas não acho. Percorro multidões e por mais que te veja não te encontro. É sempre uma rasteira desta calçada mal arranjada. Nunca estás lá.

E chateio-me.

Chateio-me com os sorrisos que não voltei a ver e com as gargalhadas que tanto ecoaram no meu ser. Chateio-me com as lágrimas que secaram porque nunca mais te voltei a ter... Aqui. Perto de mim...

Porque a vida conspira contra o meu coração...

Estás longe e não estás. Vejo-te por todos os cantos, becos e esquinas. São sempre vultos que viram pó, partidas, ilusões de uma saudade embriagada.

Mas se estivesses aqui também estaria chateada. Chateada por ressacar de quem não posso alcançar. Chateada porque cada sorriso e gargalhada fazem-me querer chorar...

Chateada porque me chateias a alma! Quero-te e não te quero! Não te quero, mas... Ai, como te quero!

Embalada por músicas que um dia ouvi de ti. Dói o quão longe estás de mim. Mas esta ressaca não me deixa pensar direito. Quando chegas eu quero fugir, e quando vais não te quero largar... Na verdade eu só queria saber arriscar.

Arriscar para te querer e só querer. E para que quisesses também...