Banco de jardim.
Está tudo bem e está tudo mal. A vida é uma confusão, e o destino que ela segue uma questão que me atormenta.
E está tudo bem... Mas também está tudo mal. É nesse mal que eu volto ao mesmo banco de jardim que outrora me acolheu, ironicamente, quando também estava tudo bem e tudo mal. Faço uma longa pausa daquela que seria a minha habitual longa e constante caminhada, acelerada, sem dar espaço aos olás dos pensamentos mais ruidosos. Deixo-me arrefecer num dia em que, apesar do sol, a brisa é um tanto gelada. É um lugar que me traz uma certa paz... E nessa paz não pensei ter uma palavra a dizer. Mas elas vieram ter comigo e aqui estão, neste texto.
Dizem que a minha vida está melhor que nunca. No meio de imensas preocupações banais do dia a dia, adiadas para uma data onde me encontre com mais energia, tenho os mínimos que preciso, estou confortável, e ainda posso fazer alguns estragos à minha carteira... Nunca na vida acreditaria ser possível viver assim, depois de tantos anos onde o que havia era um sufoco constante.
Mas isso não me preenche, e por isso é que o material nunca me disse nada. Não é disso que sou feita. Sou feita de amor seja ele de que forma for, e neste momento só tenho o meu umbigo para isso...
Já me conformei com a solidão, no meio de tantos anos assim teria dado em louca se não o fizesse. Às vezes questiono-me se alguma vez conseguirei ser uma miúda minimamente social como as outras todas da minha idade, porque já estou tão habituada a viver para mim e para a minha sombra que nem cogito essa suposta normalidade. Para mim a solidão tornou-se normal, tornou-se rotina... A trabalhar em casa, pior ainda.
Talvez por isso esteja neste banco onde outrora estive. Como ele, quem me conhece sabe onde me encontrar, e têm me aqui, sempre de braços abertos para os receber. Mas se precisar de alguém? Não há ninguém.
Por vezes sinto-me injusta por ver este céu cinzento sob a minha vida. Há pessoas por perto... Que por norma estão demasiado ocupados nas suas vidas para terem eles iniciativas. Sinto-me tão esquecida como um banco de jardim num jardim que ninguém frequenta.
Ainda assim, prendo-me pelos meus sonhos, e eles próprios me sufocam... Porque este vazio corta-me as pernas para os concretizar aos poucos, de dia para dia.