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Amorosamente

Meros pensamentos dramatizados em verso e em prosa

Amorosamente

Meros pensamentos dramatizados em verso e em prosa

Sex | 28.05.21

Banco de jardim.

H. Alegria

Está tudo bem e está tudo mal. A vida é uma confusão, e o destino que ela segue uma questão que me atormenta.

E está tudo bem... Mas também está tudo mal. É nesse mal que eu volto ao mesmo banco de jardim que outrora me acolheu, ironicamente, quando também estava tudo bem e tudo mal. Faço uma longa pausa daquela que seria a minha habitual longa e constante caminhada, acelerada, sem dar espaço aos olás dos pensamentos mais ruidosos. Deixo-me arrefecer num dia em que, apesar do sol, a brisa é um tanto gelada. É um lugar que me traz uma certa paz... E nessa paz não pensei ter uma palavra a dizer. Mas elas vieram ter comigo e aqui estão, neste texto.

Dizem que a minha vida está melhor que nunca. No meio de imensas preocupações banais do dia a dia, adiadas para uma data onde me encontre com mais energia, tenho os mínimos que preciso, estou confortável, e ainda posso fazer alguns estragos à minha carteira... Nunca na vida acreditaria ser possível viver assim, depois de tantos anos onde o que havia era um sufoco constante.

Mas isso não me preenche, e por isso é que o material nunca me disse nada. Não é disso que sou feita. Sou feita de amor seja ele de que forma for, e neste momento só tenho o meu umbigo para isso...

Já me conformei com a solidão, no meio de tantos anos assim teria dado em louca se não o fizesse. Às vezes questiono-me se alguma vez conseguirei ser uma miúda minimamente social como as outras todas da minha idade, porque já estou tão habituada a viver para mim e para a minha sombra que nem cogito essa suposta normalidade. Para mim a solidão tornou-se normal, tornou-se rotina... A trabalhar em casa, pior ainda.

Talvez por isso esteja neste banco onde outrora estive. Como ele, quem me conhece sabe onde me encontrar, e têm me aqui, sempre de braços abertos para os receber. Mas se precisar de alguém? Não há ninguém.

Por vezes sinto-me injusta por ver este céu cinzento sob a minha vida. Há pessoas por perto... Que por norma estão demasiado ocupados nas suas vidas para terem eles iniciativas. Sinto-me tão esquecida como um banco de jardim num jardim que ninguém frequenta.

Ainda assim, prendo-me pelos meus sonhos, e eles próprios me sufocam... Porque este vazio corta-me as pernas para os concretizar aos poucos, de dia para dia.

 

Seg | 17.05.21

Lembrei-me de ti.

H. Alegria

 

Lembrei-me de ti. Lembrei-me de nós. Lembrei-me daquele sentimento, outrora tão puro... Lembrei-me de como te esqueci, e do quanto o fervor deste amor pintava isso de impossível... Esquecer-te.

Realmente, a vida tem qualquer coisa de fantástico. Por um momento lembrei-me de tudo aquilo que outrora me parecia impossível de enterrar. Como uma cicatriz notória que te acompanha para o resto da vida... Mas até a cicatriz mais vistosa acaba por passar despercebida. A gente habitua-se. Trazemos todos os nossos livros de vida no bolso, enquecendo-nos das histórias que desenham cada página.

Isso incluí amores e desamores como o nosso. Amores onde o coração sussurra teres encontrado a tua alma gémea, por mais que saiba que tenha sido na hora errada...

O nosso amor não foi amor... Foi poema, foi desencontro, foi telepatia. Foi um olhar tão cheio que não lhe cabiam palavras. Foi um acaso tão certo que veio por engano.

Sei lá eu se um dia nos cruzamos para dar razão ao meu coração... O tempo passou e tudo levou. Deixou um capítulo poeirento na efemeridade que é a vida.

Mas por um segundo eu lembrei-me do quão mágico que foi. E um vazio assolou-se em mim ao perceber que tudo passa... Ao perceber que este, outrora, grande amor que vivemos se desvanece num passado onde nunca mais mexemos.

E num segundo segundo pensei em todos os corações desfeitos em cacos, desolados por haver um amanhã de mil pedaços, incrédulos da possibilidade de o sol brilhar novamente... Mas tudo passa! E para o bem e para o mal, essa é a magia da vida.