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Amorosamente

Meros pensamentos dramatizados em verso e em prosa

Amorosamente

Meros pensamentos dramatizados em verso e em prosa

Seg | 18.05.20

Há erros bonitos.

H. Alegria

Nunca tive tantas perguntas como agora.

Jurei que nunca te escreveria uma única palavra, mas há muito que se diz que quem mais jura mais mente. Quem sou eu para ir contra essa gente? Por isso, aqui estou. Despida de silêncios e numa tremenda confusão. Sei lá eu o que isto é...

Contigo ganhei perspetivas que nunca pensei alcançar. Ponderei aquilo que nunca sequer tinha questionado. E no meio de tanta reflexão, só ficou mais confusão. Dúvidas, de tudo e de nada.

Dei por mim a agir de formas que sempre critiquei. Vi em mim o orgulho e a casmurrice que outrora havia condenado. Mas contigo, pus as minhas utopias de lado. Sei lá eu o que nós somos... Ou fomos. Sei apenas que isso nunca se aproximou, sequer, de ser questão.

Houve, algures, um momento em que tive esperança... Esperança que as frases batidas estivessem corretas... Quando menos esperares, alguém há de aparecer, e eu quase acreditei. Tinha acabado de me reerguer dos cacos que outro alguém me deixou. Queria lá eu saber de amores e desamores! Não queria. E, por isso, quase acreditei.

Mas essa esperança foi sol de pouca dura. Uma estrela cadente, que mal chega já foi embora e ninguém mais se lembra. Excepto eu, eu lembro-me. Rio um bocadinho de quase ter acreditado, ingénua. Lá no fundo, claro, um pedaço de mim queria ter tido motivos para acreditar. Mas eu sabia que não era o caso.

E no meio de tanta sobriedade, só me pergunto como é que deixei que isto se arrastásse tanto. Porque é que nunca, algo de mim, me alarmou para não vir por aqui? Já cruzei estradas onde algo me disse para continuar caminho. Se o mesmo tivesse acontecido aqui, nunca prolongaríamos tanto tempo nesta encruzilhada.

Hoje ainda me habituo à ideia do teu silêncio. À ideia e à prática. Aos poucos vou reaprendendo a viver sem a tua atenção. Aos poucos vou deixando de me lembrar que não estou à espera de uma resposta tua. Aos poucos volto a ser eu. A independência em pessoa, a solitude em forma de gente... Não gosto. Mas é uma defesa. Não preciso de ninguém, porque se precisar dói, e só assim me aprendi a defender da dor. Se há coisa que corrói é ter quebrado um pouco disso por ti. E nisto, não houve amores nem desamores, mas quebrei-a.

Quebrei-a porque não tem como controlar tudo.

Não tem como ter dias bonitos de companhia e ainda conseguir amar os dias cinzentos de solidão.

Então deixei as coisas fugirem do meu controlo, uma vez que fosse. Um erro, talvez? Se soubesses as vezes que me disseram (e que eu própria me disse!) para ter cuidado com isto... O que quer que isto fosse.

Contudo, fui sempre cuidadosa demais. Quando não o fui, tinha mais com que me preocupar, prioridades que mereciam todo o meu cuidado. E agora era tempo de descuidar um bocado. É um erro? Que o seja. Há erros bonitos. De erros nascem lições, e na pior das hipóteses, isso chega-me para sair a ganhar.

Assim o fiz, assim se arrastaram dias e noites que nunca tiveram tão pouco de vazio. Contigo esqueci-me do que era esse vazio, que há anos que me perseguia, e ainda há de perseguir por outros tantos.

E com isso, com reflexões, com todas as dúvidas que agora me enchem os pulmões, eu confirmo que no fim do dia nem tudo é mau.

O sol há de se pôr ainda hoje, e amanhã erguer-se-á novamente. Não há amores nem desamores que se avistem ao horizonte, mas a vida continua. E há de continuar, como sempre continuou.

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